Apresentação que fiz, no livro do meu pai, Francisco Cavalcanti Filho, aos 30 anos de morte do Chico Poeta, que se autointitulava “O Vate Apaixonado”. (Paulo Afonso de Paiva Cavalcanti):
FRANCISCO CAVALCANTI FILHO é natural de Ubajara, Ceará, de onde veio cedo para Fortaleza, prosseguir seus estudos no Colégio Militar. Foi aspirante de Infantaria, na turma de 1931, na Academia Militar de Realengo, no Rio de Janeiro. Oficial, voltou à Fortaleza, onde serviu no QG da 10ª Região Militar e no Colégio Militar, do qual foi secretário.
Mas é o seu lado poético, romântico, que se destaca nesta coletânea, organizada por ele, e que denominou REMINISCÊNCIAS. Ela contém poemas escritos nesta fase, de Colégio Militar, Academia Militar, onde ficou conhecido como o CHICO POETA, e, uma escrita a bordo do navio Almirante Jaceguay, em trânsito de Fortaleza para o Rio de Janeiro. A exceção é “O CARREIRO DE EXTREMOZ” que ele escreveu em Natal, em 1954, mas que incluiu nesta coletânea.
O poema “O CARREIRO DE EXTREMOZ”, recebeu música de José J. Carvalho, para canto orfeônico em quatro vozes. Aliás, também estão nesta coletânea, os poemas “JANGADAS”, de 1927, musicado pelo maestro Euclydes da Silva Novo, com pauta para piano e canto, e ainda o poema “CANÇÃO DE IRACEMA”, de 1928, musicado pelo mesmo maestro, para canto orfeônico em quatro vozes.
Sua veia poética aflora a cada linha, em trechos onde objetos inanimados, ganham vida, voz, alma lírica, como a sua. É o caso de “jangadas que interrogam”, da “velha porta a gargalhar”, “pedras que sonham indiferentes”, ou ainda, quando vê o farol de Mucuripe, como humano, atribuindo-lhe coração e sentimentos.
Mesmo nos difíceis dias em que viveu as crises que a nossa história registrou, não permitiu jamais que o seu lado “soldado” endurecesse o coração do poeta apaixonado.
Do pequeno CHICO POETA que vendia versos aos colegas do Colégio Militar, em Fortaleza, por alguns trocados para o cinema, ao generalato, no ápice da carreira, nunca deixou de escrever, com muito amor e romantismo, mesmo nos piores dias para o País ou para o seu coração.
A inspiração e a beleza que afloram em seus versos prendem para sempre os que o leem pela vez primeira. De onde, de que espírito tão puro, vem tanta beleza? E, onde está a beleza da solidão, do inconformismo, do arrependimento, da morte? Disse Anatole France, “in Vie Literaire”: - “Creio que jamais conseguiremos saber, porque motivo uma coisa é bela”.
Esta frase, embora vindo de um autorizado artista, não nos obriga a demorar na busca desta certeza. Será a beleza uma coisa objetiva, ou somente uma ideia pessoal, subjetiva? Não sei. O que me basta saber, - nisso não paira sombra de dúvida, - é que todos os corações que pulsam na terra sentem o apelo do belo.
Quando um artista, um gênio, perde toda a sua força espiritual e sua alma decai, este ainda poderá assomar à borda do abismo e ser salvo se tiver preservado com ele esse único bem: o senso de beleza.
Fui testemunha, das inúmeras vezes em que ele ressurgiu exuberante e belo, dos muitos abismos em que teimavam atirá-lo. Inútil, ele retornava paciente, desprendido, sábio, carinhoso e apaixonado, em busca da nunca esquecida beleza.
Aos que não o conheceram, está em tempo, seus poemas refletem sua vida. Alternam perspectivas, arrependimentos, inconformismos, fatalidades, aflições, sempre exibindo o belo como alternativa.
Itaitinga, CE, 21/11/1997.
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